sábado, junho 09, 2012


Uns queriam sentir a brisa do mar, ou a areia da praia em seus pés. Outros queriam sentir um fraco vento batendo em seus rostos. Alguns só queriam sentir a sensação de ar puro. O calor, ou o frio. O fresco de uma água, ou o quanto uma fogueira esquenta… Já eu, ah, eu apenas queria sentir você, porque de todas as sensações, garanto que te sentir seria a melhor de todas.



O nosso amor é de papel como as flores que me deste, e no papel há-de ficar, para sempre escrito nas minhas palavras. E se vier a transformar-se em qualquer outra coisa, será sempre numa outra forma de amor: o papel vem das árvores, mas o amor vem do amor e nunca morre, mesmo depois de cortado, prensado e transformado. Amar é como plantar uma semente e tu já plantaste a tua no meu coração. 




Margarida Rebelo Pinto
O tempo cura. O tempo trás. O tempo leva. O tempo muda. O tempo passou... Mas o tempo de agora é meu.

quinta-feira, janeiro 05, 2012

Às vezes é preciso aprender a perder, a ouvir e não responder, a falar sem nada dizer, a esconder o que mais queremos mostrar, a dar sem receber, sem cobrar, sem reclamar. Às vezes é preciso respirar fundo e esperar que o tempo nos indique o momento certo para falar e então alinhar as ideias, usar a cabeça e esquecer o coração, dizer tudo o que se tem para dizer, não ter medo de dizer não, não esquecer nenhuma ideia, nenhum pormenor, deixar tudo bem claro em cima da mesa para que não restem dúvidas e não duvidar nunca daquilo que estamos a fazer. E mesmo que a voz trema por dentro, há que fazê-la sair firme e serena, e mesmo que se oiça o coração bater desordeiramente fora do peito é preciso domá-lo, acalmá-lo, ordenar-lhe que bata mais devagar e faça menos alarido, e esperar, esperar que ele obedeça, que se esqueça, apagar-lhe a memória, o desejo, a saudade, a vontade. Às vezes, é preciso partir antes do tempo, dizer: aquilo que mais se teme dizer, arrumar a casa e a cabeça, limpar a alma e prepará-la para um futuro incerto, acreditar que esse futuro é bom e afinal já está perto, apertar as mãos uma contra a outra e rezar a um Deus qualquer que nos dê força e serenidade. Pensar que o tempo está a nosso favor, que a vontade de mudar é sempre mais forte, que o destino e as circunstâncias se encarregarão de atenuar a nossa dor e de a transformar numa recordação ténue e fechada num passado sem retorno que teve o seu tempo e a sua época e que um dia também teve o seu fim. Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar. No ar ficará para sempre a dúvida se fizemos bem, mas pelo menos temos a paz de ter feito aquilo que devia ser feito. Somos outra vez donos da nossa vida e tudo é outra vez mais fácil, mais simples, mais leve, melhor. Às vezes é preciso mudar o que parece não ter solução, deitar tudo a baixo para voltar a construir do zero, bater com a porta e apanhar o último comboio no derradeiro momento e sem olhar para trás, abrir a janela e jogar tudo borda-fora, queimar cartas e fotografias, esquecer a voz e o cheiro, as mãos e a cor da pele, apagar a memória sem medo de a perder para sempre, esquecer tudo, cada momento, cada minuto, cada passo e cada palavra, cada promessa e cada desilusão, atirar com tudo para dentro de uma gaveta e deitar a chave fora, ou então pedir a alguém que guarde tudo num cofre e que a seguir esqueça o segredo. Às vezes é preciso saber renunciar, não aceitar, não cooperar, não ouvir nem contemporizar, não pedir nem dar, não aceitar sem participar, sair pela porta da frente sem a fechar, pedir silêncio, paz e sossego, sem dor, sem tristeza e sem medo de partir. E partir para outro mundo, para outro lugar, mesmo quando o que mais queremos é ficar, permanecer, construir, investir, amar. Porque quem parte é quem sabe para onde vai, quem escolhe o seu caminho e mesmo que não haja caminho porque o caminho se faz a andar, o sol, o vento, o céu e o cheiro do mar são os nossos guias, a única companhia, a certeza que fizemos bem e que não podia ser de outra maneira. Quem fica, fica a ver, a pensar, a meditar, a lembrar. Até se conformar e um dia então esquecer.




Margarida Rebelo Pinto

segunda-feira, janeiro 02, 2012


De alguma forma eu sabia que seria amor. Eu não sei, mas acho que a gente olha e pensa: “Quero para mim”. Mas dá um frio na barriga, um tremor, um medo de depender de alguém, de sofrer, de escolher errado, de lutar por algo que não vale a pena. Porque o coração nem sempre é querido, as vezes ele também gosta de pregar partidas, sei lá, talvez queira provar que também sabe ser vilão. Foi por isso que corri, tentei fugir, mas quando tem que ser, não adianta, será. E olha só, passei tanto tempo fugindo de um alguém que hoje sofro por não ser totalmente meu. Agora me diz, por quê?


Caio Fernando Abreu

sábado, dezembro 24, 2011


Seu amor, comparado ao meu, é pouco. Muito pouco. Mas você não vê. Não vê, não enxerga. A mulher louca que sempre fui por você, e que mesmo tão cheia de defeitos sempre foi sua. Sempre fui só sua. Sempre quis ser só sua. Sempre te quis só meu. E você, cego de orgulho bobo, surdo de estupidez, nunca notou. Nunca notou que mulheres como eu não são fáceis de se ter; são como flores difíceis de cultivar. Flores que você precisa sempre cuidar, mas que homens que gostam de praticidade não conseguem. Homens que gostam das coisas simples. Eu não sou simples, nunca fui. Mas sempre quis ser sua.


Caio Fernando Abreu

quinta-feira, dezembro 22, 2011



Suponhamos que eu seja uma criatura forte, o que não é verdade. Suponhamos que ao tomar uma decisão eu a mantenha, o que não é verdade. Suponhamos que eu tenha menos defeitos graves do que tenho, o que não é verdade. Suponhamos que baste uma flor bonita para me deixar iluminada, o que não é verdade. Suponhamos que eu esteja sorrindo logo hoje que não é dia de eu sorrir, o que não é verdade. Suponhamos que entre os meus defeitos haja muitas qualidades, o que não é verdade. Suponhamos que eu nunca minta, o que não é verdade. Suponhamos que um dia eu possa ser outra pessoa e mude de modo de ser, o que não é verdade.


Clarice Lispector

domingo, dezembro 04, 2011




É esse gelo por dentro que eu não consigo entender. Você se doou tanto quando eu não pedia, e no momento que pela primeira vez pedi, você negou, você fugiu. É esse bloqueio de aço encouraçando o silêncio, que eu não consigo entender!!



Caio Fernando Abreu

Chega um momento em que você acorda de manhã se sentindo diferente do que se sentia quando deitou a cabeça no travesseiro horas atrás, e finalmente percebe que cansou. Que nem sempre todo o amor do mundo é suficiente. Não me entenda mal, amor é o fundamental para uma relação, mas nem sempre é o suficiente para mantê-la em pé. Da mesma forma que quando um não quer dois não brigam, quando um não quer, dois não se acertam. Essas relações em que você se sente sozinho, mesmo estando a dois, nunca funcionam. (...) É desgastante, é cansativo, é devastador. Dói mais do que colocar o coração no triturador de carne. Não que eu já tenha colocado o meu lá para saber, mas você entendeu. Finalmente entra na sua cabeça que algumas pessoas nasceram pra se encontrar na vida, se amarem, marcarem um ao outro para sempre e irem embora, e não para ficarem juntas. Não é questão de desistir. É questão de aceitar que acabou.


Vinícius Kretek


Vais e vens conforme te apetece. Desapareces e apareces sempre que queres.

Eu permaneço aqui, impávida, serena. Sempre esperando. Com a esperança que um dia venhas para ficar, de vez. Ou que vás, de vez...
Quero deixar de ser o porto de abrigo que usas só quando uma tempestade invade a tua vida. Quero, também, ter coragem para deixar de sê-lo. Para te deixar, a ti e às incertezas...